quarta-feira, 23 de julho de 2008

Quando deitou de novo na grama, olhando para o céu, agora sozinha, conseguia espalhar as coisas: as frases, os abraços, os adeus, os olhares, toques e tudo mais, separá-las, e depois montar tudo, lado a lado, encaixando e procurando em algum lugar, um espaço e uma razão naquela grande história.
O céu cheio de estrelas e uma lua tímida ainda crescendo e querendo se mostrar traziam ainda mais força para o sentimento de saudade mas escondiam o seu sentimento de solidão, assim, sentia-se mais perto de novo, não como na última vez, e sim como nos tempos perturbadores e cheios de confusão em que as vozes se cruzavam com raiva e embora os beijos fossem intensos e os corações pulsassem no mesmo ritmo acelerado, as mentes se opunham.
No escuro e com a grama fazendo cócegas e começando a irritar seu corpo, seus olhos se mexiam em todas as direções, revendo as cenas, montando seu albúm particular, o filme de suas vidas; às vezes, ela ria sozinha e já em outro momento ficava completamente séria, depois vermelha de vergonha ou de raiva e até com uma cara de dúvida, pensando em qual seria o final da grande história, do seu filme particular.

quarta-feira, 18 de junho de 2008




Que sentido fazia tudo aquilo? Talvez nenhum; na verdade, era estranho até demais. Ontem mesmo andaram juntos de mãos dadas, caminharam pelo parque no final da tarde e tomaram sorvete ainda que o frio estivesse congelando e ainda caísse uma leve garoa, e de repente tudo ficava muito confuso: apenas um bilhete de adeus. Depois do forte abraço e o beijo que ficou na boca, na pele, no cabelo durante toda a noite junto com Letícia ele largou um bilhete logo pela manhã a sua porta e teve a maior cara-de-pau de ainda tocar a campainha às seis horas da manhã! E o pior, pra simplesmente acabar com tantos sonhos e planos com as palavras mais mórbidas e roucas: 'não dá mais, adeus.' Letícia estava confusa, olhava para o lado esperando ele aparecer com o seu buquê de rosas vermelhas e dizer que era tudo uma brincadeira e que estava tudo bem. Só que as horas passaram, a chuva voltou e começou a engrossar a cada segundo, era desesperador para quem visse a cena, no caso, somente eu a vejo. E nenhum carro virava a esquina,então, ela ia para dentro de casa e voltava, as vezes com uma xícara de café, ou com o celular, como se alguém fosse aparecer ou ligar, estava inquieta; mas no fundo ela sabia que ninguém apareceria, pois continuava com o seu horrível pijama cinza de frio. Enxugou as lágrimas, tomou seu café amargo e frio e encostada na parede releu seu bilhete inúmeras vezes, tentando encontrar alguma pista, desvendar algum enigma, tentar achar uma dica que remete-se ao sentido de tudo, que ela já sabia: ele simplesmente fora embora. O pior é que parecia que ela já esperava por isso, sem saber como; e chorava não por dor, mas por obrigação, por consideração.

E um belo dia você acorda e percebe que as coisas estão fora do lugar (e você gosta).

sábado, 24 de maio de 2008

Hoje quando acordei e abri a janela ainda via as estrelas, mesmo tendo certeza de que elas não estavam ali, e ainda via cinco luas, alguns cometas, nuvens, raios, inúmeros objetos voadores; o vento era forte e gelado e quando tocava minha pele quente produzia uma leve sensação de prazer, então eu fechava os olhos e via pessoas voando e milhões de planetas, mas só via um sol, apenas um sol.

domingo, 4 de maio de 2008

Ana estava sentada. Sentada em uma poltrona toda colorida, bem psicodélica e cheia de rabiscos. Estava sentada na poltrona em frente ao espelho de seu quarto, de olhos fechados. Então imagina-se naquelas enormes salas de um grande psicólogo, em um sofá preto de couro bem aconchegante, sentia-se no divã. Falava de forma incontrolável sobre os acontecimentos passados. A verdade é que andara recebendo muitos bilhetes ultimamente, bilhetes secretos, sem nome, nem nada; o assunto era basicamente o mesmo: coisas sobre quem ela era realmente, o que estava fazendo no mundo e como ajudar alguém. Ela já estava desesperada com essa história de ter um estranho enchendo a sua cabeça com perguntas estranhas; outro dia leu na revista sobre o perigo que é receber cartas anônimas, ainda mais na situação do mundo de hoje. Qual era a desse cara? Era homem? Era mulher? Nem sabia, só tinha certeza de que essa pessoa era muito estranha. Foi aí que entrou em um colapso nervoso e recorreu a seu melhor psicólogo, ela mesma. Não que fosse egoísta o bastante para se abrir com alguém, é que com certeza achariam que ela estava tendo um distúrbio mental ou algo do gênero; sabe como é né? Hoje qualquer coisinha é elevada a um certo grau de loucura.
E então em frente ao espelho passou duas horas da sua tarde de domingo. Estava muito concentrada em solucionar a sua atual situação como alvo de um suposto louco, seria algum pacifista? comunista? anti-global? Quem seria?. Passado um tempo, esqueceu essas perguntas e se focalizou nas perguntas que estavam fazendo a ela - Quem é você? O que você está fazendo no mundo? - Ela não entendia muito essa coisa toda de movimentos revolucionários, nem de paz interior, só tinha certeza de que não estava em paz consigo mesma. Outro dia mesmo o seu vizinho tinha sido morto e não houve nem ao menos uma passeata contra a violência, aquilo a incomodava e sabia que alguém tinha conhecimento disso. Abriu os olhos e viu-se no espelho: era magra, loira e tinham os olhos escuros, fortes e profundas olheiras; pensou 'o que eu posso fazer?' e como se de repente alguém lá em cima ouvisse a sua pergunta ela sentiu a resposta, isso mesmo, sentiu, a sua mente se abriu, sentiu dor, sentiu comoção, sentiu pena, ódio, amor e um pouco de solidão, percebeu que tinha que partir de cada um, ajoelhou-se e pediu em voz mansa : 'Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo tende piedade de nós.'
Pegou um papel e uma caneta para responder as cartas do desconhecido, felizmente não encontrou respostas. Talvez toda essa coisa de receber bilhetes tenha movido coisas dentro dela, ela não sabia por onde começar, tinha tanta coisa pra falar sobre si, mas nada que fosse satisfazer alguém; ela não sabia quem era, essa era a verdade, só sabia quem não era, e isso era muito proveitoso. Não que agora ela fosse mudar o mundo, nem organizar movimento contra o governo ou coisas do tipo, mas havia algo dentro dela que estava disposto a mudar alguma coisa.
'E quem é você?'

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Tem coisas que são difíceis de dizer e piores ainda de sentir, são sentimentos sagrados e palavras sagradas que ameaçam sair da boca toda vez que eu te vejo.
desconsidere :)

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Suas mãos nervosas estavam sobre a mesa do restaurante e seus dedos faziam um movimento contínuo de inquietação e espera. A quanto tempo estava ali? Ela não fazia nem idéia; já estava com raiva e com lágrimas nos olhos. Roberto havia dito que chegaria às sete horas, disse que ligaria, mas não ligou, assim como também não foi ao encontro. Clara não entendia essa história de falar que vai e não ir e também de deixar alguém esperando, não importa o tempo, fazer alguém esperar era coisa muita feia, e não ir era pior ainda; ainda mais quando se coloca lingeries pretas e um vestidinho básico que fica muito sexy, isso sim era imperdoável. 'Qual o problema dos homens?' ela pensava, e quando não encontra respostas começa a achar que o problema era com ela, seria o beijo? A conversa? Ela era feia? E se fazia mil perguntas naquele restaurante, procurando um buraco no chão para se esconder e não parecer a fracassada que levou um bolo do carinha que conheceu no bar mais badalado da cidade, o que já era de se imaginar, vindo de um homem. A partir desse dia começou a fingir que odiava todos eles e a mentir pra tantos homens quantos fosse possível.
Infelizmente ou não, um dia conheceu um tal de Henrique, e este apaixonou-se por ela, e se apaixonou de verdade. 'E agora?' Clara pensava 'O que fazer com essas malditas flores e declarações?'Estava aflita - na verdade era um novo sentimento que surgiu quando percebeu que também gostava dele- e fingia que não. Jogava as flores fora e não retornava as ligações. Que menina estranha, por que não fazer o que se quer quando tem tudo pra dar certo? Henrique não só bagunçou o seu coração como a sua cabeça, ficava sempre a sua porta, ligando no seu celular e ficava também no seu pensamento, ela não esquecia aquele primeiro beijo no canto da boca e as suas mãos em torno da sua cintura, e por isso sentia medo, medo por que era bom. Pegou as flores e jogou fora, decidiu por tê-lo apenas na memória, como um sonho, algo impossível, um mito, uma quimera.
Esse é o problema de magoar uma mulher, depois, ela sente medo.

terça-feira, 1 de abril de 2008

As mãos macias dele repousavam sobre as suas costas; ela estava deitada sobre o seu joelho, e ele dizia coisas lindas em seu ouvido enquanto mexia no seu cabelo e ela fechava os olhos de forma encantadora e apaixonada. Enquanto suas mãos deslizavam sobre o seu corpo cheio de calor, ela pensava em uma única forma de retribuir aquele momento tão especial, mas ela não conseguia nem se mexer direito,a presença dele e de todo aquele sentimento a paralisava. De repente ele morde a sua orelha e a faz um pedido, ela fica sem saber o que falar, mas, com certeza, se ele pudesse ouvir o pensamento dela, ele ouviria :' eu estarei sempre aqui para você, menino'. Então eles se beijam.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Sofia era o tipo de garota sonhadora que só queria ir embora de casa e viver uma outra vida, em um outro mundo, no seu universo. Constantemente, tinha sonhos estranhos onde grandes monstros coloridos a arrastavam contra a saída de casa ou sentia alguém tentando a sufocar ou a prender. Às vezes acordava gritando, às vezes nem conseguia falar, mas pelo menos sabia que era apenas um sonho. Sua cidade? Se é que aquilo pode ser chamado de cidade, ela morava em um pequeno município do Vale. Seu pai era um homem ignorante de meia idade; e a sua mãe havia morrido quando ela, Sofia, tinha apenas 10 anos de idade. Porém, depois de já sete anos passados, a falta de sua mãe, de seus conselhos ou somente sua presença ainda eram evidentes em sua vida. Talvez se sua mãe não tivesse ido cedo demais as coisas seriam diferentes e ela respirasse tranquila e tivesse uma vida normal de uma garota de ensino médio. Dançar? Seu pai achava vulgar. Namorar? Homens eram cruéis. Sair? só se fosse a tarde. Infelizmente sua vida se resumia em escola, nada de garotos, e uma coisa fundamental: arranjar um modo de escapar de lá. Certa noite brigou com seu pai, ela estava desesperada, novamente teve seus malditos sonhos, só que quem via o rosto dele, seu pai, e suas mãos a segurando, tentando a impedir de respirar e viver. Acordou no meio da noite, juntou suas coisas e foi embora para São Paulo. Seu futuro? Talvez tenha virado uma prostituta como as milhares que vão para lá, talvez tenha sido excessão. Mas pelo menos ela tentou, pelo menos.

sábado, 29 de março de 2008

Que você me encanta, isso eu sei. Você é minha inspiração desde aquele dia e simplesmente por que você me faz bem. Quando você segura minha mão, eu sinto meu corpo todo esquentar e quando você me beija eu sinto arrepios. O que há em em você? Que me atrai feito um ímã e eu não consigo fugir? Você me rouba o sentimento, estaciona no meu pensando e eu sinto seu cheiro antes de dormir. Tua voz é doce e o teu sorriso é o que eu quero ter todas as manhãs quando eu acordar depois de uma longa noite sentada na janela mais distante do chão. Então me abraça de novo, que aí eu fecho os olhos e eu vou até o céu, tudo fica escuro e eu me perco em teus braços. Eu sinto dizer, que cada momento com você eu não esqueço, sinto dizer que você é a fonte da minha insônia. Quero dizer que você me faz perder os sentidos.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Resistência é pior, Letícia repetia isso inúmeras vezes desde 2007; não que fosse um tempo tão distante, mas não importava, no dia 1º de janeiro de 2007 ela descobriu que resistência era a pior saída e isso era fato. Logo depois dos primeiros minutos de um novo ano ela resistira aos mitos e costumes para sorte de início de ano, e depois que algo dava errado logo pensava que deveria ter usado uma calcinha vermelha ou quem sabe deveria ter pulado as tais as sete ondas do mar; já no carnaval não saiu por que dizia ser contra essas festas banais onde todo mundo faz o que nunca faria, já passado um tempo, viu as fotos de todos seus amigos em algum lugar e pensou que deveria ter ido se divertir ao invés de assistir "A walk to remember" pena milésima vez. Agora tinha se apaixonado e queria dizer que não, e isso era pior do que não comer um prato de lentilha no ano novo; ela sabia que a raiva de estar pensando em alguém faria aquele pensamento continuar martelando em sua pequena cabeça, sabia que dizer que não só iria aumentar esse sentimento, sabia que negando estaria afirmando uma coisa, e o pior é que ela era conivente com toda essa mentira. Ela sabia que tudo isso lhe causaria problemas futuros, que mesmo que pudesse fingir, ela saberia, mas era impossível, ela preferia mentir, omitir, esconder, calar e fingir que era uma daquelas garotas arrogantes que dizem que não se apaixonam fácil, do que se permitir ao romance. Pobre Letícia, estava em apuros.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Sempre existia algo que lhe fugia pelos dedos, que escapava dela como um líquido escorrendo por entre os vãos de uma mão fechada; era espantoso, assustador e dava calafrios de prazer, sempre que algo chegava perto dela, algo extranhamente novo, isso escapava e levava consigo um pedaço da sua vida, levava um pouco de seus cabelos, levava sua saliva, a sua voz e ela ficava sem reação e sem coragem de dizer qualquer coisa, por que até o pensamento lhe fugia, e ela se sentia encantada. Essa sensação estranha de ter uma parte se aconchegando em um outro canto e receber novos fluídos externos lhe completava, ela era feliz por não ser ela mesma todo dia, se acalmava por não ter que aguentar todo dia a mesma pessoa, gostava de não ter que suportar-se , ela ia, voltava, dava a volta; ela vivia instável. Ela não era a mesma sempre, ela era inconstante, livre e tranquila. Ela era um pé no saco num dia. Era uma flor amarela no outro. Era uma mina de ouro. Era um lixão de São Paulo. Um mito, uma verdade. Ela gostava dessa antítese, de ser uma contradição formada em sua própria essência, gostava de pensar que era inexplicável exatamente por ser tão simples, ela inexistia em si.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Esses dias lembrei de você, e de como eu gostava de ver o meu sorriso refletido nos seus olhos, de como você ficava engraçado quando o sol batia direto no seu rosto e de como era sua cara amassada acordando; lembrei daquela abraço que ainda faz parte de mim como se fosse uma pele e da sua voz chata tentando me impedir de fazer alguma coisa. Lembrei de como você era espaçoso e de como você ficava bem de branco, lembrei de tanta coisa e sabe o que mais? Parece que tanto faz.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Todos os dias aquele pensamento forte invadia a sua mente, você sabe não é?Aquele pensamento forte que você chega a fazer você sentir o cheiro do momento bom, do perfume bom. Maria Luíza sentia isso constantemente, ela fechava os olhos mesmo sem querer e as cenas iam se repetindo em sua mente, como na primeira vez, até a mesma intensidade, e ela sorria, sorria com a lembrança do cheiro de Augusto, sorria por que ainda sentia o olhar dele encontrando e seu e todo aquele lance de tocar a pele; era tudo incrível. Ela estava tão apaixonada que ao abrir os olhos as coisas pareciam ter mudado de lugar, nem ela se reconhecia, não se reconhecia não por ficar sem sentido e sentir borboletas no estômago toda vez que ouvia o nome dele, e sim, por que estava com medo, estava apaixonantemente medrosa e isso era estranhamente bom. Coisas que o amor faz, fica tudo tão sem sentido.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

As paredes de nossos quartos são testemunhas de todo nosso desespero, elas guardam nossos segredos mais profundos, elas guardam até o nosso silêncio, mas as vezes tenho a impressão de que elas são tão rígidas por que talvez absorvam os nossos sentimentos mais fortes, se for mesmo assim,meu quarto já é quase uma grande muralha.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Deixa a chuva derreter o doce de nossas palavras, deixa ela levar aquele açúcar de frases manjadas, deixa ela limpar nosso rosto e resplandecer a nossa alma; deixa a chuva trazer de volta a alegria de novas paixões e novos planos; então, pega um guarda chuva, se protege, me abriga, a gente pega um cobertor, todo mundo se aquece e fica tudo bem, deixa essa chuva fazer de novo aquilo que a gente fez antes, é só não chorar que fica tudo bem. Depois da chuva o céu se abre e o sol reaparece. Eu penso em tanta coisa quando chove...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Daqui de cima eu vejo algumas luzes da cidade, o céu está bem escuro no começo mas vai avermelhando e aparecem algumas enormes nuvens brancas embaixo, já perto do telhado das casas; na rua as luzes se aglomeram e a neblina em cima delas dá uma sensação de ficar perdido, talvez seja por que por mais que você olhe para a luz a neblina sempre a deixa embaçada, fora de foco, então não dá pra ter certeza se é mesmo só a luz ou se tem algo mais atrás daquilo tudo, aí eu me perco,acho que por que o que eu queria encontrar eu sei que não vai estar ali, nem em lugar algum que esteja ao alcance dos meus olhos sem ser sua fotografia. Eu só queria poder te ver, sentir seu cheiro novamente e ouvir tudo o que você disse outra vez, se eu tivesse sido mais esperta teria pedido pra você repetir também, quem sabe assim eu conseguiria reproduzir a cena na minha mente outra vez.

É uma pena o céu não estar estrelado, é uma pena não ver você aqui agora, é uma pena saber que eu não sei tudo que eu queria saber, é uma pena viver olhando para a neblina que cobre a luz.
Perdida, lembra? A única certeza e incerteza que eu tenho é você.